segunda-feira, 27 de junho de 2011

A Cidade dos Dentes Tortos


Tentei. Considerei. Em vão. Não consigo (mesmo estando aqui há muito mais tempo do que gostaria) habituar-me aos hábitos deste lugar insano. Este lugar sufoca, consome todas as suas expectativas. Preconceito? Gostaria que o fosse. Este conceito tem fundamentação mais que experimentada, vivida cotidianamente.
Sempre me pareceu apática. A cidade que me aparecia apenas em visitas esporádicas à casa de vovó (tendo-me “acolhido” posteriormente) nunca me pareceu esplendorosa. Nem precisava. Apenas queria conviver harmonicamente com ela, pois nela, em seu seio de podridão, nunca estive.
Vias tortas, canais mal feitos, obturações por fazer. Esta grande boca tortuosa que ousam chamar de cidade me engole a vontade, mas não a percepção. Cheia de cáries, as quais apodrecem seus habitantes, fazendo destes seus escravos. Rouba-lhes a liberdade, o direito de ir e vir, a possibilidade de viver dignamente. Tais roubos se traduzem aplicando ao cotidiano mais que real: problemas com o transporte público, educação, saúde e segurança, além de outros problemas internos.
Esta boca engolidora de gente, devoradora de sonhos, parece não se importar com os problemas internos, fazendo com que a fofoca e a intriga, pareçam imprescindíveis ao bom funcionamento do sistema.
Devo estar sucumbindo a este lugar, enlouquecendo. Mas, me diz: você já viu ou ouviu falar de um lugar que precise ir ao dentista?
Satuba merece agradecimentos.
Meus sinceros agradecimentos a esta, que se tornou a prostituta dos meus olhos: impura, despudorada, marginalizada e anti-virginal. Sem ti querida cidade, não conseguiria talvez experimentar a real situação da parte podre das relações sociais. Obrigada minha querida meretriz.
P.S: dedico esta homenagem à cidade que me recebeu com tanta ternura, Satuba, a prostituta dos meus olhos.
 Por: Lari

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